Pérola Juliana Luna Grupo de História
Juliana Luna Freire é Professora Adjunta na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e é pós-doutora em Letras na mesma instituição
A história do ‘módice’. absorventes íntimos -historia
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A historia do absorvente intimo: No meio de minha aula, uma aluna falou em alto e bom tom: “Pessoal, menstruei. Ai, ai... Alguém tem um absorvente para me dar?”. Uma colega lhe cedeu um ‘Intimus – triplas proteção com abas’. A aluna me pediu licença para ir ao banheiro, foi, gastou uns 10 min, voltou e continuou a participar da aula tranquilamente. Ninguém comentou, ela não se avexou nem um pouco e eu achei aquilo o máximo. Enfim, era a naturalização expressa de algo que é súper natural.
Absorventes íntimos -historia. – Aquela cena seria impensável 100 anos atrás. Primeiro, que ela não teria pedido um absorvente às amigas, mas uma ‘toalhinha’. Segundo, que menstruação era algo extremamente indecoroso de se falar privadamente, impronunciável em público. Era um termo tabu.
Menstruação – historia do absorvente intimo
‘Menstruação’ é um termo que existe desde 1836, vindo de ‘mênstruo’ (séc. XIV), que está relacionado etimologicamente ao latim ‘mensis’ (mês), dado que fluxo ocorre mensalmente. O povo, no entanto, recorria a eufemismos esquisitos como ‘incômodo’, ‘costume’, ‘chico’, ‘embaraço’, ‘paquete’, ‘regras’, ‘visita’ ou ‘volta da lua’. A mulher menstruada ‘estava naqueles dias’ ou, pior, estava ‘adoecida’. 😮
Como se não bastasse o próprio incômodo menstrual, a mulherada não tinha muito a que recorrer para contornar a situação. Desde a Idade Média, o que se usava era um paninho, de linho, algodão ou lã, junto a uma espécie de cinto com alfinetes para a fixação. Pouco mudou por séculos. As mulheres dispunham de toalhinhas, que eram lavadas às escondidas e deixadas para secar discretamente ao sol. O desconforto, as cólicas e a baixa eficiência na absorção do fluxo faziam as mulheres se recolherem durante o período menstrual.
Ainda feitos de pano, os primeiros absorventes descartáveis só foram comercializados em 1880. Eram caríssimos e pouco proveitosos. O avanço veio das enfermarias das guerras. A empresa Kimberly-Clark desenvolveu o ‘cellucotton’, um material à base de polpa de madeira que conseguia absorver cinco vezes mais sangue que as bandagens de algodão.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o ‘cellucotton’ foi fabricado a rodo e a empresa rachou de ganhar dinheiro. Com o fim da guerra, a Kimberly-Clark não sabia como direcionar tamanha produção, mas, para sua salvação, recebeu cartas de enfermeiras francesas dizendo que usavam o ‘cellucotton’ como absorvente menstrual improvisado. Eureca!
Prontamente, desenvolveram o primeiro absorvente feminino anunciado em revistas, o ‘Kotex’ – nome criado a partir da redução de ‘cot-tex’, ‘cot(ton) tex(ture) (textura de algodão, em inglês). A marca existe até hoje nos EUA, onde é muito popular.
Historia do absorvente intimo – Modess
Para fazer concorrência, em 1926, a empresa Johnson & Johnson, que já fabricava os até hoje famosos bandaides, aperfeiçoou a tecnologia e lançou o absorvente ‘Modess’. O nome vem de ‘modesty’ (modéstia), no sentido de simbolizar ‘decência, pudor’.
Absorventes íntimos -historia. Nas revistas femininas da época, a empresa disponibilizava “cupons de compra silenciosa” em que vinham escrito “Uma caixa de ‘Modess’, por favor”. Era uma maneira de requerer o produto ao funcionário da farmácia, sem precisar se constranger dizendo-lhe o nome. A cliente entregava silenciosamente o cupom (aquele da figura), pagava e saía de lá com uma discreta caixa embrulhada em papal pardo. O sucesso foi total!
O ‘Modess’ foi o primeiro absorvente íntimo descartável a chegar ao Brasil, em 1933. Em 1945, já era aqui fabricado. Além dele, a empresa fabricava a calça-cinto ‘Serena’, uma cinta elástica com presilhas que prendia o absorvente para que ficasse na posição correta e evitasse os vazamentos. A tecnologia do absorvente com adesivo foi coisa que apareceu só em 1974.
‘Modess’ ficou tão conhecido por tantos anos que palavras como ‘mods’ ou ‘módice’ se tornaram sinônimos de absorvente íntimo por muuuito tempo. Em 2008, a Johnson & Johnson resolveu aposentar o histórico ‘Modess’ e direcionar seu márquetim apenas ao ‘Sempre Livre’.
Tampax – ob: historia do absorvente intimo
Ah, os absorventes de uso interno, do tipo tampão, foram inventados em 1931. Em 1937, foi lançado o Tampax, nome vindo de ‘tampom packs’ (pacotes de tampão, em inglês). O produto vinha com um aplicador, para que as mulheres não precisassem encostar em seus órgãos sexuais, o que era considerado sujo e até pecaminoso por muita gente na época. Eita!
Absorventes íntimos -historia. Contrariando essa ideia absurda, a ginecologista alemã ela Judith Esser-Mittag desenvolveu o famoso ‘O. B.’, que dispensava o uso do tal aplicador. ‘O.B.’ é uma sigla alemã, abreviação de ‘ohne Binde’, que significa ‘sem bandagem, sem faixa’.
Como são mais indicados para fluxos menstruais mais amenos e precisam de trocas mais frequentes, além do mito de que podem tirar a virgindade, os tampões sempre foram menos populares que os absorventes externos.
Bom, hoje em dia, apesar do mundo de opções descartáveis ou dos modernos coletores menstruais e absorventes reutilizáveis, o fato é que menstruar e falar em menstruação ainda é um tabu para muitas mulheres. Mas os tempos estão mudando – e para melhor. Tocar no assunto sempre foi um incômodo, mas, como disse Suzy Rêgo numa antiga propaganda dos anos 80, “incomodada ficava a sua avó”.
📚 Referências: ‘The product that dared not speak its name’, por Margaret Gurowitz, na página ‘Kilmer House’ (fev. 2008); e ‘The Surprising Origins of Kotex Pads’, por Kat Eschner, na ‘Smithsonian Magazine’ (nov. 2018).
📸 Imagem: propaganda de junho de 1928, no ‘Ladies Home Journal’, de ‘Kilmer House’ (fev. 2008).
A autora deste texto é a Prof. Pérola Juliana Luna – Grupo de História
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